sexta-feira, 10 de abril de 2009

Memória descritiva.

O jazz está, desde sempre, consubstanciado na luta dos seus criadores afro-americanos por uma visibilidade justificada desde o início do século XX quando surgiu nos E.U.A.
Conhecidos os envolvimentos sociais e políticos que condicionavam os jazzmen originais – discriminação racial e menorização da sua música face aos padrões dominantes – passou a ser utilizado pelos músicos o termo "struggle" que tão bem define a sua determinação em tocar uma música diferente e livre, lutando por torná-la reconhecida e adquirir um estatuto social pertinente de direito à Vida.
A passagem e a aceitação do jazz na Europa, a partir dos anos 1920, agora por músicos brancos unidos espiritualmente aos seus inspiradores afro-americanos, não deixou de constituir uma situação idêntica que a 2ª Guerra Mundial fez acentuar na repressão do regimes nazi e soviéticos.
O facto de hoje, neste princípio do século XXI, tanto na Europa como nos E.U.A., o jazz ter adquirido o reconhecimento das elites e de ter mesmo passado para o consumo populista, não apaga o carácter de pressão a que os seus músicos mais exigentes estão sujeitos.
Em Portugal e num regime obscurantista como o de Salazar, a pressão sentida pelos seus primeiros activistas, caso de Luís Vilas-Boas ou de José Duarte, é um perfeito exemplo das condições adversas em que se começou a criar um gosto no nosso público. É esta, por conseguinte, a justificação de uma história compactada de eventos determinantes que impuseram o jazz em Portugal, enumerando-os e explanando-os com rigor, década a década, para melhor se compreender o seu processo de sedimentação.
(do documento de candidatura do programa)

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